Nos nossos primeiros anos de vida, nossos cérebros estão em construção. São uma casa vazia, pronta para ser mobiliada. Como diz o filósofo, uma tábula rasa. Mas à medida que crescemos, alguns de nós acham que seus cérebros são meras quitinetes e que, abarrotados com muita informação, não há mais nada a aprender. Mas será que já aprendemos tudo mesmo?Esse modo de pensar pode levar muitos de nós ao comodismo, a nos conformamos que já esgotamos nossa capacidade e que a casa está cheia. E é aí que mora o perigo. O que não usamos tende a atrofiar com o tempo, e com nosso sistema nervoso central não é diferente.
Embora tenhamos todos cerca de 86 bilhões de neurônios quando nascemos, o que nos diferencia ao longo da vida é a quantidade de comunicações estabelecidas entre eles, as chamadas sinapses. Fisiologicamente falando, essas sinapses são as pontes que estabelecemos entre as células nervosas e que serão a pavimentação que nossos cérebros utilizarão ao longo da vida. O problema é que, ao contrário das pontes do mundo exterior que se desgastam com o uso, as nossas sinapses deixam de existir quando são pouco ou nunca utilizadas.
Em outras palavras, quando não utilizamos as sinapses, o número de neurônios não diminui, o que diminui são as ligações entre eles. Como disse o neurologista Dr. Tarso Adoni, no programa Bem Estar da Rede Globo de 13/05/2016, “não utilizei, isso é podado; utilizei, isso é reforçado”.
[pullquote-right]”Não utilizei, isso é podado; utilizei, isso é reforçado.” [/pullquote-right]
Por isso, é tão importante o estímulo ao aprendizado nos primeiros anos de vida: é necessário aproveitar esta janela de oportunidade neural para criar as conexões quando o organismo está mais predisposto a isso.
Entretanto, ao longo dos anos, à medida que envelhecemos nossas limitações deixam de ser meramente fisiológicas. Passamos a lidar com um outro problema: a indisposição psicológica. Nos cercamos de dezenas de desculpas para não nos aventurarmos em um novo aprendizado, em uma nova experiência. É natural, afinal faz parte da natureza humana a resistência à mudança.
E entre todas as desculpas, uma das mais perigosas é a do sabichão, aquele que diz que já sabe tudo. Aliás, para alguns isso é apenas uma desculpa, mas como as mentiras ditas muitas vezes passam a soar como verdades ao ouvido do mentiroso, com o tempo deixa de ser uma mera desculpa e torna uma limitação real: o indivíduo passa a não enxergar outras oportunidades de crescimento. A partir daí, o indivíduo passa a viver como Truman (personagem de Jim Carrey no filme “O Show de Truman: O Show da Vida”), confinado a um mundo limitado e previsível.
[pullquote-left]Temos que buscar o aprendizado constante, a aventura diária, a libertação das amarras da insipiência.[/pullquote-left]E realmente não seremos capazes de aprender mais nada se nos mantivermos engaiolados nesta mentalidade. É como a história do elefante que, preso desde a infância por uma corda amarrada a um toco, não acredita ser capaz de se libertar de seu cativeiro mesmo tendo se tornado muito maior e mais forte do que o mecanismo que o limita. Por não acreditar, nem sequer chega a tentar a fuga. E esse é o risco para nós, humanos: aprisionados pelas palavras “não tenho mais nada a aprender”, sequer chegamos a tentar fugir da mediocridade e da ignorância.
Para que possamos viver em plenitude até o fim de nossos dias, temos que buscar o aprendizado constante, a aventura diária, a libertação das amarras da insipiência. Enfim, para colocarmos novos móveis, precisamos de mais cômodos, e para criá-los, basta admitir que temos muito ainda a aprender. E sempre haverá muito a se aprender!