Ao longo da história, diferentes momentos da filosofia tentaram explicar o conceito de felicidade. Nesta seara, vale a pena assistir a palestra do Professor de Filosofia da USP Clóvis de Barros sobre motivação e inspiração (https://www.youtube.com/watch?v=4mdHqtrXlpk). Se considerarmos que o conceito de ser feliz corresponde à oportunidade de desfrutar de diversos momentos de Felicidade, educar é motivo de júbilo. Aliás, nesta palestra ele discorre sobre como descobriu a vocação para a docência e chama a atenção a descrição que ele faz de que naquele momento, em que está lá atuando como agente formador e transformador, ele é feliz e, por essa razão, quer repetir a experiência outras vezes.
Muito embora ele apresente outras perspectivas para o conceito de felicidade, a exposição de que a sensação agradável de ser útil ao outro e estar fazendo aquilo para o que você nasceu toma conta de seu ser todas as vezes em que se encontra na condição de educador é reveladora da condição vocacional da missão do professor.
Se você tem a vocação, seja ela tênue ou densa em sua alma, a sensação de felicidade sempre que você assume o papel professoral é inevitável, qualquer que seja a condição exterior em que isso ocorra: seja em um ambiente com todos os mimos e luxos para docentes e discentes ou em um ambiente privado de toda e qualquer comodidade que dê conforto aos personagens do processo educacional.
Não se confunda isso com a decisão meramente racional de não se submeter a condições degradatórias enquanto profissional, quando instalados os mecanismos de sucateamento a que a educação tem sido submetida em diversos rincões deste nosso país. É preciso ter bom senso e saber quando a exposição a ambientes privados de segurança, saúde, higiene básica e outros requisitos mínimos para o exercício da cidadania torna-se nociva a sua continuidade enquanto ser humano pleno e habilitado para o fomento do conhecimento ou, em última instância, para sua existência.
Para aqueles que têm o dom, ser feliz sendo professor é e sempre será uma relação natural e lógica. Para aqueles que exercem o ofício por outras motivações isso nem sempre será verdade, e tende a ser cada vez menos recorrente quanto mais o indivíduo toma ciência da necessidade de realização pessoal e profissional como condição básica para sua plenitude como indivíduo, como afirma Maslow (1943) em sua Teoria da Hierarquia das Necessidades. Para aqueles que, mesmo vocacionados, sentem-se compelidos a abandonar a docência considerando a precariedade da situação a sua volta, a sensação de felicidade sempre estará presente em cada oportunidade de agir como educador, ainda que privados das oportunidades da educação formal, mas em todos os momentos em que sua vocação for de alguma forma requerida.
O professor é sempre feliz! Às vezes apenas abrimos mão de alguns dos nossos momentos de felicidade para nos sentirmos seguros e confortáveis educadores não praticantes nesse mundo que, paradoxalmente, precisa cada vez mais de educação.
______________________________
Masslow, A. H. (1943). A Theory of Human Motivation. Psychological Review, 50(4), 370-96.