Somos honrados com a oportunidade única de vivenciar um período de profundas transformações nas relações humanas. Boa parte desta transformação decorre dos avanços tecnológicos das últimas décadas. A alta velocidade de propagação das informações é diretamente proprocional à velocidade de expressão das reações e inversamente proporcional à maturação das emoções que elas despertam, subvertendo a relação de precedência que estas duas últimas deveriam ter: ao receber as informações, experimentamos um fluxo de emoções que, depois de “envelhecidas” em tonéis de sabedoria, deveriam desencadear nossas reações, coerentes com a maturidade que de nós é esperada.
Entretanto, o que observamos nos diversos ambientes que nos cercam é o oposto: uma foto, um boato, uma frase fora de contexto, um mero comentário (ou às vezes um simples momento de silêncio) são estopins que desencadeiam um verdadeiro bombardeio de críticas, indignações e, por vezes, agressões. Gradualmente, percebemos que nossa sociedade está a cada dia mais tecnologicamente selvagem, pecando pelo excesso de excessos e pela falta de equilíbrio. Sintonia, sinergia, simpatia, sincretismo e sinceridade (todos começados com o prefixo “sin”, do grego “syn”, que quer dizer “junto”) são espécies em extinção nesta selva de bits e bytes que têm o poder de conectar células e elétrons e isolar almas e sentimentos.
Poder-se-ia afirmar até que, depois das gerações X, Y e Z, a próxima provavelmente será a geração M, de “mimimi”, termo cunhado para expressar a manifestação de quem só sabe reclamar, sem expressar argumentos significativos (inspirado no personagem Beaker, da série de TV The Muppets Show). Em prol do bem comum e do estabelecimento da boa convivência, devemos exercitar mais a busca pelo equilíbrio em todos os aspectos da vida. Somente assim poderemos sair deste modo de cega defesa do politicamente correto para defender o que, muitas vezes, é errado.
No mundo corporativo, cada vez mais se usa termos com origem no latim como colaborar (trabalhar junto), cooperar (atuar junto), coletivo (colher junto), comunicar (usar junto). No prefixo destes termos, está a expressão “com” (ou sua variante “co”) que, assim como a preposição de mesma grafia, sugere o abandono do isolamento em favor do relacionamento e a substituição do indivíduo (que sugestivamente traz em suas raízes o “não” + “dividir”) pelo conjunto (que soa quase como um pleonasmo ao juntar a partícula latina “com” e seu respectivo significado: “junto”). A partir desta percepção, diversas companhias (também do latim “com” + “panis”, “comer o pão junto”) têm buscado harmonizar suas relações, internas e externas, adequando políticas, estruturas e valores para proporcionar ganhos para todos.
Portanto, tanto na vida pessoal quanto na vida profissional, é preciso antes de tudo compreensão (mais um termo com origem no latim, a partir das expressões “com”, “pre” e “hedere”: respectivamente “junto”, “agarrar” e “hera”, espécie de planta trepadeira). Compreender momentos, fatos, motivos, argumentos e, principalmente, pessoas é condição sine qua nom para a evolução da espécie humana, afinal conhecimento não é sabedoria e sabedoria de nada vale se não é usada. Somente se juntarmos forças, entendendo e respeitando o ponto de vista do outro, poderemos crescer juntos, como os galhos e ramos da árvore que precisa de harmonia e equilíbrio para não ceder à constância da gravidade, alcançando o tão buscado, esperado e – quiçá – merecido sucesso.